Uma história suja

Vem este post a propósito de um comentário ao anterior. Comentário esse que, dado o conteúdo e escrito por alguém auto-intitulado “autómatos provocadores do bloco no seu melhor”, mostra bem de onde vem e para onde quer ir.

Que fique desde já claro o seguinte: neste blogue não temos nem aceitamos qualquer ligação partidária e não alimentamos guerrinhas deste (baixo) nível entre partidos, particularmente quando falamos de dois partidos ditos “de esquerda”.

Antes porém de passar a uma merecida resposta ao referido post, irei a uma análise, agora mais a frio, dos factos:

Não tenho as menores dúvidas de que tudo não passou de uma provocação orquestrada pelo PS e sua máquina de propaganda, feita com o intuito de limpar a imagem de um candidato ao Parlamento Europeu claramente em queda.

A direcção da CGTP, que organizou a marcha do 1º de Maio, convidou o PS para que enviasse uma delegação ao evento e assim se cumprisse uma formalidade tradicional, isto é, uma simples troca de cumprimentos. A meu ver fez mal. A marcha tinha como objectivo não só assinalar o 123º Dia Mundial dos Trabalhadores mas também, e com toda a razão, protestar uma vez mais contra a política de direita deste governo PS. Mesmo tratando-se de uma mera formalidade protocolar e tradicional, parece-me quase uma traição a todos os trabalhadores. É colocar a imagem à frente da vida dos trabalhadores que supostamente defende e representa.

Contudo a organização da marcha, muito razoavelmente, agendou esse acto formal para o Rossio e não para a praça do Martim Moniz onde se iniciaria a marcha do 1º de Maio e onde estariam milhares de homens e mulheres descontentes com o governo PS. Havia concerteza a consciência de que as coisas poderiam “dar para o torto” e foi decidido um “campo neutro” para a troca de cumprimentos. Porém, à última hora, alguém trocou os locais e a delegação do PS acabou mesmo por ir ao Martim Moniz.  Não sei de quem é a responsabilidade, mas não me parece que a CGTP, até pelas reacções posteriores aos acontecimentos, o fizesse.

Claro que a suposição sobre este pormenor não chega para acusar o PS de provocação. Mas vejamos como respondeu o PS ao convite da CGTP: enviou uma delegação encabeçada pelo seu cabeça de lista às eleições Europeias, aproveitando assim para fazer campanha eleitoral, algo que eu considero lamentável por razões que me parecem evidentes. Mas mais: o indivíduo que encabeçou a delegação do PS, para além de não ser militante desse partido (o que desmonta a ideia de cordialidade e inocência do PS), tem sido uma das mais ferozes vozes contra a CGTP nos últimos 4 anos e um dos mais acérrimos defensores das decisões do governo PS (as mesmas contra as quais milhares de pessoas se estavam manifestando naquele lugar). As suas intervenções na comunicação dita social e no seu blogue não deixam margem para dúvidas. Para piorar, Vital Moreira –  sem dúvidas um dos mais experientes políticos portugueses no activo – sabia bem onde se ia meter. Foi militante do PCP durante vários anos e participou em inúmeras iniciativas daquela natureza.

Já depois dos incidentes a reacção do PS, pela voz do impossível Canas, diz tudo sobre o assunto. O aproveitamento político deste caso é de uma natureza tão baixa que nem me merece comentários. O mesmo posso dizer sobre as palavras do próprio Vital Moreira, mas aí dou o desconto de quem passou por momentos…apertados.

A tara do PS pelas provocações é histórica: basta recordar o 1º de Maio de 1975 em Lisboa ou a ida de Mário Soares à Marinha Grande na campanha para as Presidenciais de 1986. E com a actual direcção desse partido, só se admira quem quer.

Não condeno de forma nenhuma o que se passou. A reacção das pessoas foi a normal ante tal baixeza e ante tais políticas. Só tenho pena de uma coisa: que tendo ficado com a fama, os manifestantes não tenham tido o proveito.

Posta de parte esta questão passemos então ao comentário que motivou este post.

O tipo de discurso apresentado pelo autor reveste-se desde logo de alguma contradição: desvaloriza (e com razão) os incidentes colocando aspas quando fala em “agressões” mas ao mesmo tempo parece admitir que de facto elas existiram. Mas não é isto que me parece importante.

Quem quer que tenha escrito aquele comentário teve dois motivos para o fazer.

Primeiro acusar o BE e seus militantes de também terem participado nos apupos e, pior, de “conluio” com o PS, querendo passar a mensagem de que foi o BE quem instigou os manifestantes a apuparem Vital Moreira, entrando assim como segunda parte da provocação orquestrada pelo PS. Desta forma limpa-se a imagem do PCP e ainda alguma da possível frustração por ter alinhado inconscientemente na jogada do governo.

O segundo motivo parece ser a delacção pura e simples de um cidadão que participou dos apupos à delegação do PS.

Se houve militantes do BE a apupar Vital Moreira? Possívelmente houve, como concerteza também os houve do PCP ou simples apartidários, cidadãos anónimos e descontentes com o PS e seu governo. Mas, por mero acaso, nas imagens que vi na reportagem da TVI24, uma das pessoas que mais perto se chega de Vital Moreira a insultá-lo é alguém que eu conheço pessoalmente e é militante do PCP.

Quero com isto dizer que vejo com bons olhos que tenha havido militantes do BE a insultar Vital Moreira. Prova que, ao contrário do que eu pensava, ainda há Bloquistas que se afastam da linha pró-PS que a direcção daquele partido tem seguido.

Se a reacção do BE foi triste e alinhou na crucificação pública do PCP? Foi, sem margens para dúvidas. Mostra o total alheamento da cúpula do BE em relação à classe trabalhadora e comprova, uma vez mais, o alinhamento estratégico com o PS.

Compreendo que as pessoas próximas do PCP se sintam frustradas com o BE neste caso. Mas não posso aceitar que se use essa frustração para actos de bufaria. À moda antiga.

ADENDA: após deliberação do Colectivo da Conspiração dos Iguais, o comentário em causa foi retirado, por razões que se prendem com a protecção da pessoa visada. A ele ficam as minhas desculpas pela demora na retirada.

26 comentários

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26 responses to “Uma história suja

  1. Maria Olivia

    A associação feita acima e a denúncia que ela encerra deve ser divulgada. Quem não deve não teme. Ou temerão? Temerão, porque elas revelam o óbvio: o BE é hoje útil ao PS, como o foram, no passado, os grupelhos que estão na sua génese. O próprio Mário Soares reconheceu (epifânias que só a senilidade permite) a “utilidade” dos grupelhos provocadores de “extrema-esquerda” no combate de desgaste ao PC.

    Já agora, porque chama “traidor” a Vital Moreira, o imberbe agitador louro, porque vocifera “traíste-NOS”? Não satisfeitos em travestirem-se de trabalhadores, qual “acidentes carnavalescos” nas comemorações do 1.º de Maio em exercício de requinte pequeno-burguês, agora também se querem travestir de militantes do PC ressentidos? …em favor de quem e contra quem?
    – contra os trabalhadores, que viram a grandiosa manifestação que fizeram em Lisboa reduzida ao circo mediático de uns apupos e agressões(?).
    – contra o PC, repetindo a fórmula da Marinha Grande.
    – a favor do PS, que com o circo mediático e vendo a mentira anticomunista repetida mil vezes nos órgãos de CS, conseguiu “apagar” a manifestação do 1.º de Maio da CS, lateralizar a discussão política e arranjar peditório (o da vitimização do candidato) até ao dia das eleições.

    O PS há-de agradecer, de facto, ao BE e aos “idiotas úteis” de serviço.

    A particularidade, neste caso, é que a irresistível atracção entre as câmaras de televisão e o BE desta correu mal e desmascarou o “arranjo”.

    Provocadores úteis como o “X” chegaram a ser providenciais para a PIDE… e depois para a CIA. Lixo pidesco, sim.

  2. Igor Marques

    Maria Olívia devo só esclarecê-la do seguinte: quando Mário Soares falava da “utilidade objectiva” de provocadores da “extrema-esquerda” referia-se ao MRPP e não a nenhum dos grupos e partidos que mais tarde se integraram no BE. E a maioria desses grupos, talvez (e sublinho o talvez) tirando a UDP, eram úteis ao PCP no PREC, e não ao PS, que não precisava deles para nada.

    Não queira entrar por aí. Eu já entrei muitas vezes e depois não sabia muito bem como saír.

    E o termo “traidor” não é um exclusivo do PCP. Deve saber que “traidor da classe operária” era um termo muito em voga em todos as franjas revolucionárias até há alguns anos.

  3. Maria Olivia

    Nuances:
    A Esquerda.net, de caminho, noticia os incidentes num artigo em que o PC, e a especulação em seu torno, é mencionada 3 vezes; faz notícia das declarações do inefável-apoiante-do-PSOE José Saramago que academicamente especulando sobre especulações critica o PC; e que dizer das declarações de Miguel Portas, lesto em lamentar “a agressão”(?) e o clima de “sectarismo”(???).

    Sim, hoje, como ontem, se arregimentam provocadores. Se hoje é um “X“, ontem era um “José Manuel Barroso”… é irrelevante a sigla que o tutela porque o denominador é comum. Relevante é que a orquestração não passe sem contraditório.

    Comparar Francisco Martins Rodrigues ao “autómato” das imagens até para caricatura é infeliz e por demais redutor do papel e da vida do primeiro.

    Um à-parte:
    Já agora, em que é que a LCI foi útil ao PC durante o PREC?

  4. Igor Marques

    Maria Olivia, no post já tinha dado razão aos que, identificando-se com o PCP, rejeitam a triste atitude do BE em alinhar nas acusações ao PCP. Quero porém recordá-la do seguinte: o “inefável-apoiante-do-PSOE José Saramago” é militante do PCP e integra a lista da CDU nas eleições para o Parlamento Europeu. Para arrancar uns quantos votos e uns quantos elogios da burguesia europeia já o PCP não se lembra de que Saramago é amigo de Baltazar Garzón.

    Registo e saúdo o seu retrocesso nas acusações que fez aos grupos de extrema-esquerda que integraram o BE. A sigla é de facto relevante, Maria Olivia. O MRPP não era a UDP, a LCI não era a AOC.

    A comparação referida não é entre as pessoas. É entre os actos. E os actos em causa demonstram um claro colaboracionismo com as autoridades e o sistema, mascarado de sectarismo pseudo-revolucionário. Só um louco ou um desesperado pode aceitar tais atitudes.
    É também interessante o elogio velado que faz a Francisco Martins Rodrigues, sem dúvida longe do tratamento que o PCP lhe tem dado ao longo de todos estes decénios.

    A LCI foi de facto útil ao PCP, como o foram todos os outros partidos que integraram a FUR (MES, MDP/CDE, PRP-BR, FSP e LUAR, creio não estar nenhum em falta) . Era a eles que o PCP recorria para não deixar fugir a sua massa militante operária, de quem escondia as manobras centristas e de acordo com a burguesia. Assim, todos esses partidos integravam as manifestações “unitárias” em apoio aos governos provisórios de Vasco Gonçalves e eram a massa de manobra do PCP na sua estratégia de tomada do poder. Foram também úteis todos estes partidos no golpe de Novembro: surgiram como a moeda de troca entregue pelo PCP para a sua legalidade.
    A LCI, por exemplo, no congresso que funda o PSR reconheceu precisamente isso.

  5. Maria Olivia

    “inefável-apoiante-do-PSOE José Saramago” é militante do PCP e integra a lista da CDU nas eleições para o Parlamento Europeu”
    – Lamento.

    “A comparação referida não é entre as pessoas. É entre os actos. E os actos em causa demonstram um claro colaboracionismo com as autoridades e o sistema, mascarado de sectarismo pseudo-revolucionário.”
    – Descuras, uma vez mais, as circunstâncias – a denúncia, ontem, da actividade provocatória de Francisco Rodrigues Martins na clandestinidade é em nada comparável à do idiota útil que, à laia de instigador inconsequente e prejuízo da manifestação do 1.º Maio, é apanhado pelas objectivas das câmaras no cumprimento do seu papel de colaboracionismo – sim – com a estratégia eleitoralista do PS.

    – O PCP nunca foi comparte da FUR, foi sim da FUP (da qual faziam parte os grupelhos que enunciaste e o “Grupo 1.º de Maio”). A efémera existência da FUP (de 25 a 27 de Agosto de 75…48 horas) e a razão aproximada para a sua dissolução – o apoio de grupelhos a Otelo e ao Copcon em detrimento do 5.º governo provisório – desmonta o argumento da “utilidade maquiavélica” dos grupelhos…

    Da “utilidade” da LCI, em particular – que utilidade, para o PC, em quem, processo eleitoral após processo eleitoral, exortava a formação de um governo de coligação PC/PS, apenas para depois, recorrentemente, acusar os primeiros de sectarismo…? Servia a quem mesmo?

  6. Igor Marques

    Maria Olivia, as circunstâncias são realmente diferentes, mas o acto é o mesmo. E tão condenável foi um como é o outro.
    Francisco Martins Rodrigues limitou-se a saír do PCP, uma cisão pela esquerda, algo inaceitável para o revisionista PCP. O PCP entregou à PIDE os camaradas de Martins Rodrigues. Isso é inegável e é inqualificável. Colaboracionismo nunca.
    E o que se passa aqui é claro colaboracionismo. Dar a cara e o nome de outrém em público, acusando-o disto e daquilo é colaboracionismo à mesma.

    Está errada quanto à nomenclatura. Era mesmo FUR. FUP era a frente de apoio a Otelo, criada já depois do PREC, vinda dos GDUP e do PRP-BR. E o grupo “1º de Maio” tinha recusado integrar a FUR, tal como a UDP, ambos pela mesma razão: o PCP.
    A FUR existiu efectivamente durante alguns dias, o PCP juntou-se-lhe durante dois. Mas isso foi uma mera formalidade. Todos esses partidos já pululavam anteriormente na órbita do PCP e continuaram a pulular.
    E a Maria Olivia esquece um pormenor: já ninguém apoiava V Governo. Nem sequer o PCP, como deve saber. Apesar de saírem à rua a mostrar apoio, o PCP já tinha deixado caír Vasco Gonçalves. E quando negociou com a direita a entrada no governo de Pinheiro de Azevedo, deixou caír a FUR. O trabalhinho estava feito, que era mostrar à direita que a presença do PCP no governo era indispensável para manter as coisas mais calmas. Mas esses grupos lá continuavam a servir ao PCP para mostrar na rua e, acima de tudo, para apaziguar os seus operários cada vez mais radicalizados.

    A ideia de um governo PS/PCP é também uma ideia do próprio PC. Quem mais que o PC sofreu na pele a “traição” do PS? Quem mais que o PC ficou frustrado com a ida do CDS para o governo?
    Se a LCI chamava o PCP de “sectário”? Chamou sim, quando fez a análise ao período de 74/75 e percebeu o logro em que tinha caído. Se a LCI exortava à formação desses governos de coligação? Claro, eram trotskistas. Que melhor marca de identificação dos trotskistas que não o entrismo?

  7. Como já referi noutro blogue, não há qualquer origem partidária nos apupos à delegação do PS. Não começou com gente do PCP nem com gente do BE. Isto é uma criação da comunicação social. Foi ela que inventou a história das agressões e ampliou a mentira dos comunistas como agressores. Os outros partidos de forma oportunista apressaram-se a encostar o PCP à parede, à boa laia mccarthista. Entre eles figura o BE, mesmo com activistas deles envolvidos nos apupos. Devemos condenar o BE e a sua postura oportunista. Não devemos, contudo, condenar quem apupou. Sejam eles do PCP, do BE, do PS ou apartidários.

  8. Já em relação ao post do Igor não posso estar mais em desacordo. Para além de o Partido não ter identificado e denunciado qualquer membro do BE como participante nos apupos também não é correcto compara-lo a uma situação que tem o seu contexto histórico como foi a publicação no «Avante!» sobre os amigos de Francisco Martins Rodrigues.

  9. É incrível o tom de autómato de Olívia. Disse asneira em relação à FUR e não se vai retratar. Em relação ao comportamento sinistro do seu Partido em entregar ex-militantes à PIDE é traduzido no seu palavrório de autómato como denúncia de actividade provocatória!

    Claro que para os membros da igreja é provocatório tudo o que seja dissidência dessa igreja. Ou seja, é uma caracterização imprestável para a discussão com membros de fora da igreja. Também devia ser provocatório atacar o regime capitalista da URSS, denunciar os seus campos de trabalho escravo e a sua polícia política bem mais sinistra que a PIDE. Era provocatória a acção autónoma da classe operária, as greves, em contexto de “reconstrução nacional”!!
    O PCP é quanto a mim uma boa fábrica de autómatos, capazes de tudo!

  10. A nóbel estalinista Sara Mago (http://caderno.josesaramago.org/2009/05/02/explusao/), ex-patroa de um jornal do partido onde meteu toda a gente na rua à boa maneira patronal, vem agora falar de novo em expulsão.

  11. Igor Marques

    Pedro, claro que não foi “o PCP” que escreveu o comentário que me motivou a escrever este post. Nem acho que o PCP no Avante! de quinta-feira o faça. Mas, depois de ter visto o mail da pessoa, sei perfeitamente quem é e sei também que não é um militante qualquer de base do PCP.

    Como disse à Maria Olivia, a comparação que faço é entre os actos em si, não entre as circunstâncias ou as pessoas. É simbólico, nada mais.

    Eugénio Calado, quanto ao José Saramago e o DN, ele aí esteve bem. O DN tinha sido o jornal oficioso do governo Fascista até poucos meses antes e a direcção de Saramago purgou-o dos jornalistas Fascistas. Parece-me justo.

  12. Admito que não conheço a história muito bem mas não foi isso que me contaram. Contaram-me que ele purgou o jornal de camaradas do partido por razões meramente económicas. Como não tenho nenhum interesse em espalhar mentiras, se bem que a minha palavra não tem peso nenhum, agradecia toda a informação que me possam passar sobre isso. Talvez se trate de casos diferentes.

  13. Igor Marques

    Eugénio estás a fazer confusão com algum outro caso ou então enganaram-te.
    No Verão de 75 o DN era o único dos jornais de grande tiragem que ainda não havia sido devidamente saneado, quanto mais não fosse porque todos os outros ( A Capital, República e o Expresso) estavam, de uma forma ou outra, ligados à oposição ao Fascismo. Sobrava o Século, já em franca decadência no fim do Fascismo, e o DN, que era Estatal, salvo erro.
    Assim, foi perfeitamente legítimo que a comissão de trabalhadores, num plenário dirigido por José Saramago, saneasse os restos do Fascismo no jornal, que era naquela altura uma ameaça ao movimento revolucionário, tendo dado grande cobertura aos golpistas do 28 de Setembro e do 11 de Março.

  14. Maria Olivia

    Admitindo que posso estar errado, acho que confundes a “Frente de Unidade Popular” (a tal que o PC integrou) com a “Força de Unidade Popular” (que emanou dos GDUP e da tentativa de capitalizar os 16% obtidos por Otelo nas presidenciais).
    (Fontes: http://www.iscsp.utl.pt/cepp/cronologias/1975.htm, http://www.rupturafer.org/spip.php?article143&debut_articles_auteur=40 (e esta, hein?), http://www.socialismo-o-barbarie.org/europa/040627_revolucionportuguesa30aniversario.htm, http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=PulsarAgosto75)

    Acerca de um acto e outro:
    Antes de mais, sobre Francisco Martins Rodrigues (FMR), conte-se a história toda – FMR foi provocador, porque, para além do trabalho fraccionista que desenvolveu junto do seu anterior Partido, conhecendo bem a organização partidária clandestina, delatou (ele próprio o assumiu em http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2008/06/30/uma-entrevista-a-francisco-martins-rodrigues-3/ e noutros momentos) e delatando colocou em risco a vida de outros que lhe guardaram confiança. Felizmente, outros não delataram. Informador da PIDE, que foi, acabou por ter mais sorte que Mário Mateus.
    Quanto à “denúncia” feita pelo Avante, compreendo-a tanto quanto compreendo o assassinato do Mário Mateus, com uma diferença: O Avante era um órgão clandestino, a sua difusão também; o artigo não denuncia a localização nem descreve os indivíduos; os indivíduos, mergulhados que estavam na clandestinidade assumiam na altura outra identidade que não a que consta no artigo. Mário Mateus morreu, João Pulido Valente, Manuel Claro e FMR viveram para delatar comunistas e outros democratas.
    Sobre a orquestração PS/BE e os dividendos anticomunistas, não concordo de todo contigo:
    A questão não é que tenham havido militantes do BE a insultar Vital Moreira (VM) (como houve comunistas, apartidários e, assumo que, socialistas) a questão é a instrumentalização da provocação articulada com as reacções que se lhe seguiram, feitas por PS/BE, no sentido da colagem à Intersindical e ao PC e, neste quadro, merece ser denunciada a orquestração que foi montada contra os trabalhadores e contra o PC – desde o papel da cúpula parlamentar que dirige o BE, à desonesta intelligentsia de serviço, aos idiotas úteis que instigaram in-loco – aliás, em relação a estes últimos, para triste tentativa de vitimização, bem basta a de VM – Não, não se trata da “delação pura e simples de um cidadão que participou dos apupos à delegação do PS” trata-se, sim, de desmontar a orquestração, os seus provocadores e beneficiários – Admita-se, sim, que correu mal a acrobacia ao “simples cidadão” ao não se ter desviado da objectiva da câmara a tempo. Atear fogo às massas e fugir é fácil, agir ao encoberto da multidão é fácil – mais do que fácil, é oportunista exercício pequeno-burguês. Não tema o “simples cidadão” manifestar-se de cara destapada, ser politicamente identificado pela polícia, ser levado para a esquadra… Felizmente, outros não temem.

    Nada tema, também, o “simples cidadão” já que toda justiça é justiça de classe e toda a maquinaria judicial existe em função de defender os interesses da sua classe – a dominante.

  15. “A quem sustenta que a delegação socialista foi à manif da CGTP à procura de se vitimizar, resta exigir ao PS que agradeça aos energúmenos que lhe fizeram o favor…” Ana Gomes

    E o resto é espuma…

  16. Igor Marques

    Maria Olivia, para esclarecer a questão da FUR: http://farm4.static.flickr.com/3221/2533282711_b0dacb8629.jpg

    Sobre Martins Rodrigues a Maria Olivia faz aí uma confusão que enfim…
    Francisco Martins Rodrigues saíu do PCP por opção ideológica. Eu estou, sumariamente, em acordo com ele, a Maria Olivia não estará. Eu não acho que seja provocação, a Maria Olivia acha. Nem discutamos mais este assunto.
    Mas discuto sim a confusão de dados que fez para aí. Leu a entrevista na diagonal e reproduziu o que lhe pareceu. Martins Rodrigues delactou, de facto, quando sob tortura. Acontece a todos, e nem eu nem concerteza a Maria Olivia passámos por tais suplícios para o podermos julgar. Agora o facto é que…Francisco Martins Rodrigues já estava fora do PCP, já havia fundado a FAP e o CM-LP, já havia executado Mário Mateus (infiltrado da PIDE na sua organização), etc etc. Não pôs em causa o PCP, não bufou ninguém do PCP e todo o processo movido contra ele vai no sentido da FAP. A sua defesa em tribunal está disponível a quem a quiser consultar.
    Por isso Maria tenha um pouco de atenção e até de respeito por um evadido de Peniche.

    Maria Olivia diga-me o seguinte, com toda a franqueza que for capaz de arranjar: acredita mesmo que se não fosse a acção desse bloquista de quem se fala, os restantes manifestantes se calariam? E se tivesse sido como a Maria Olivia acha que foi, que raio de sindicaleiros do PCP são esses que se deixam arrastar por um mero trotskista? Essa história “das imagens” deixa muito a desejar. Se (ou)virmos com atenção, os apupos já estavam no ar quando o trotskista entra em acção.

    Miguel, eu exijo. E não me digas que vais na conversa da máquina…

  17. Maria Olivia

    Está pictoricamento esclarecida, a questão da FUP.

    “Martins Rodrigues delatou, de facto, quando sob tortura. Acontece a todos” – Não, não aconteceu a todos.

    “Não pôs em causa o PCP, não bufou ninguém do PCP e todo o processo movido contra ele vai no sentido da FAP.” – Nem eu disse, a minha constatação não foi sectária (“delatando colocou em risco a vida de outros que lhe guardaram confiança”,” João Pulido Valente, Manuel Claro e FMR viveram para delatar comunistas e outros democratas”). A sua defesa em tribunal enuncia os quatro nomes que denunciou? Que rigor pode assistir ao cálculo da repercussão real da delação desses quatro? Por quanto se multiplicou o sofrimento causado pelas quatros delações? A mais quantas delações deram origem?

    – Não, não aconteceu a todos. Muitos outros foram torturados, nem todos racharam, nem todos delataram. E não se trata de tecer um juízo de valor quando se constata que FMR rachou e informou a PIDE – trata-se de constatar um facto, e não há aura que refute este facto, nem a de “evadido de Peniche”.

    “Acredita mesmo que se não fosse a acção desse bloquista de quem se fala, os restantes manifestantes se calariam?” – Claro que não. Como disse “A questão não é que tenham havido militantes do BE a insultar Vital Moreira (VM) (como houve comunistas, apartidários e, assumo que, socialistas)”, a questão centra-se no oportunista, vergonhoso e premeditado exercício de instrumentalização (no qual um dos idiotas-úteis se escaldou).

    “E se tivesse sido como a Maria Olivia acha que foi, que raio de sindicaleiros do PCP são esses que se deixam arrastar por um mero trotskista” – Nunca entendi os sindicalistas como “controleiros” da manifestação, muito menos de cada um dos muitos milhares que nela participaram. Entendo que quem provocou, quis instrumentalizar a turba, de forma parasitária, em função da farsa que orquestrou – quase conseguia – a psicologia das massas explica o entretanto.

    “Essa história “das imagens” deixa muito a desejar. Se (ou)virmos com atenção, os apupos já estavam no ar quando o trotskista entra em acção.” – Uma vez mais, não é essa a questão. Acho bem que se apupe o PS e o VM, eu mesmo o faria.

  18. Igor Marques

    Maria Olivia, quando digo “acontece a todos” naturalmente que é uma forma de expressão. Aconteceu a muitos, independentemente da organização a que estivessem ligados. Contudo não deve fazer esses juízos de valor, que os faz, acerca de quem falou sob tortura. Não esteve lá, não passou por isso. Que garantias tem de que não abriria a boca? E repare que estamos só a falar de “denúncia” e não de colaboração. Isso deixemos para as páginas do Avante! e para os arquivos da PIDE que foram parar ao sub-solo da Lubianka.

    O Francisco Martins Rodrigues viveu o resto da vida com esse peso na consciência, ele próprio o disse algumas vezes. Também por isso mesmo sempre se manteve uma personagem low-profile no resto da sua carreira política.

    Outra coisa, referi o facto de Martins Rodrigues ter sido um evadido de Peniche porque me lembrei do tratamento que o PCP lhe reservou num texto sobre o assunto. Referem o nome de todos os militantes e do GNR que os ajudou. Quando seria a vez de nomearem Francisco Martins Rodrigues pode ler-se “e outros camaradas”.Risível.

    Quanto ao 1º de Maio, quero acrescentar apenas o seguinte: a provocação partiu do PS, apenas. Julgo que é do senso comum que o PS não precisava de nenhum agitador do BE na multidão. Esta, e com razão, responderia por si. O trotskista apanhado pelas câmaras foi mais um dos manifestantes que mostraram o seu repúdio por tamanha baixeza. Tal como militantes do PCP meus conhecidos o fizeram.
    Parece-me é que o/a Maria Olivia chegou aqui a descarregar a endémica “mania da perseguição” do PCP. E essa conheço eu bem.
    Por último, se acha bem que se insulte o Vital Moreira, porque razão ficou nesse estado?

  19. A Olívia é um exemplo “vivo” que se deve evitar qualquer proximidade com o PCP.

    Já agora a propósito da miséria do PCP e do exemplo do FMR aproveito para deixar um link:
    O Primeiro de Maio de 1962
    http://passapalavra.info/?p=3102

  20. Mari@ Olivi@

    Não faço juízo de valor sobre FMR, mas o exemplo de outros que não “racharam” contrapõe-se ao de FMR, quer queiras quer não. Quem me merece respeito é Vieira Tomé, Germano Vidigal, Ferreira Marquês, José Moreira, entre outras dezenas de militantes comunistas que fizeram o derradeiro sacrifício para não delatar outros companheiro e foram assassinados com torturas, durante os interrogatórios na polícia. E, nesse sentido, até João Pulido Valente me merece mais respeito que FMR.

    Quanto aos arquivos da Pide e as velhas provocações contra o PC, compreendo que à intelligentsia burguesa interesse credibilizar um ex-arquivista do KGB que resolveu fazer-se pagar-se em dólares ou libras pela sua conversão – dar para o peditório da credibilização de um ex-agente do KGB que depois acaba por publicar um livro no território do antigo inimigo fica ao critério da honestidade intelectual de cada um. É uma acusação gasta, essa dos comunistas estarem, ou terem estado, ao serviço do estrangeiro – já o diziam os fascistas antes do 25 de Abril.

    Quanto ao suposto tratamento dado pelo PC a FMR, enquanto evadido de Peniche, a ter existido (ainda espero que me esclareças com referências factuais), ressalvo a aparente autocrítica em:
    http://www.pcp.pt/avante/1362/6203c2.html
    http://www.dorl.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=51&Itemid=103

    Ainda acerca das provocações no 1.º de Maio, há mais quem desdogmatize o que entendimento de “senso comum”:

    “Seria bom ver em câmara lenta uns salta-pocinhas que enquadravam e traziam jornalistas a Vital (Moreira) e provocavam os manifestantes. São assíduos em (…) provocações. Analisando estes “especialistas”, percebe-se melhor o que aconteceu. A Marinha Grande foi mais bem feita…”
    Joaquim Letria, 04.05.09

    • A questão do Francisco Martins Rodrigues e o PCP não está directamente ligada ao que se passou no 1º de Maio de 2009. Não me parece que tenha havido agitadores, isso é pura invenção e argumentação fraca.

      Que o PCP não tem nada que pedir desculpa pelo que se passou estou completamente de acordo, agora dizer que o BE está tão ligado ao PS e que o primeiro manda agitadores (quando as imagens são do Martim Moniz, todo o tipo de coisas se tinham passado bem antes) para “comandar” as tropas, que esta pessoa deve ser bufada em todo o lado (não há outro nome para a coisa), é simplesmente ridículo. É tão ridículo que é anti-comunista. E quero lá saber de que partido fazem, mas ser comunista implica pensar um bom bocado.

  21. Igor Marques

    Se te “merece mais respeito” João Pulido Valente ou qualquer outro que, sob tortura da PIDE, não denunciou ninguém, então o juízo de valor está feito. Agora, eu respeito tanto uns como outros pelo simples facto de terem sido presos no âmbito resistência anti-fascista. O comportamento na PIDE? A partir do momento em que sofrem torturas severas como as que sofreram isso deixa de ser relevante, a meu ver. Cada um tem os seus limites, e não são eles que definem quem é mais ou menos “herói”.

    O texto de que falei, muito sinceramente não sei onde o possa encontrar. Mas que li essas palavras, isso posso garantir.

    Nova confusão que fazes. Quando me refiro ao desvio dos arquivos da PIDE para Moscovo refiro-me a um facto que aconteceu e que nunca foi desmentido. Não me refiro, nem sequer me passou pela cabeça, ao tal “Arquivo Mitrokin”. Do que li desse livro (e que foi muito pouco) nunca vi nenhuma referência a Portugal ou ao PCP. E a minha opinião é de que se trata de um chorrilho de mentiras.
    Já o desvio dos arquivos da PIDE é duvidoso. Porque razão o PCP o fez? O que tinha a esconder que fosse assim tão importante que tivesse que ir para Moscovo? O porte na prisão de alguns militantes? Suspeitas vagas de prisões? O “caso Angoche”? Tudo isso são suposições, é certo, mas nem o mais empedernido militante do PCP tem resposta para isto.
    Que o PCP esteve ao serviço da URSS (ou pelo menos de lá recebia ordens directas) é evidente, mas não vejo nisso mal nenhum. Como diz o outro “não há almoços grátis”.

    Sobre o caso do 1º de Maio acho que é já chover no molhado. Mantenho a minha posição: o PS não precisava que provocadores trotskistas acicatassem a multidão a apupar Vital Moreira. As suas políticas já o fazem.

  22. A quem importam os juízos de valor de quem sempre apoiou um regime com uma polícia política mais sinistra que a PIDE?

    Só falta dizer que o NKVD, a Tcheka, o KGB torturavam justamente porque torturava burgueses! E quem não apoia o KGB é um burguês.

  23. Mari@ Olivi@

    “A partir do momento em que sofrem torturas severas como as que sofreram isso deixa de ser relevante” – Não deixou de ser relevante para quem não “rachou”, nem para os heróis – sim, heróis – que atrás citei e que preferiram morrer a “rachar” e denunciar companheiros.
    Quanto às confusões que vou fazendo, referes-te a quais? À da FUP? Ainda admito estar enganado, mas o teu argumento pictórico só suportou a minha tese.

    “um facto que aconteceu e que nunca foi desmentido” – duas falácias em tão curta frase, senão vejamos:
    “facto de que aconteceu” – referência factuais que comprovem que aconteceu? O senso comum, consubstanciado no boato e na imprensa burguesa, não deveria servir de resposta.
    “nunca foi desmentido (…) nem pelo mais empedernido militante do PCP tem resposta para isso”, – remeto para a leitura do «Avante!» Nº 1356 – 25.Novembro.1999 e para a entrevista de Álvaro Cunhal ao «Avante!»
    13 de Outubro de 1994. Se não chegar ainda há o relato, na primeira pessoa, de quem questionou pública e abertamente um “empedernido militante do PCP” acerca do assunto: http://paramimtantofaz.blogspot.com/2005/06/recordao-de-cunhal-com-o-kgb-pelo-meio.html

    “o PS não precisava que provocadores trotskistas acicatassem a multidão a apupar Vital Moreira” – objectivamente, precisou – sintomático disso é o facto de ninguém do PS ter exigido um pedido de desculpas ao BE (seria ridículo, sim, mas ao PC e à CGTP foi exigido…não só pelo PS).

    Quanto à divertida tese da “PIDE social-fascista” – Não espere o PS e os seus provocadores-de-mão, ao encoberto da turba e da instrumentalização parasitária da mesma, contar para sempre com a impunidade quanto à autoria moral e prática de provocações rasteiras como a do 1.º de Maio. Marinha Grande nunca mais!

    Finalmente, muitos daqueles que falam de “bufaria” são – eles sim – os verdadeiros bufos, pois que em força, rápida e orquestradamente, acusaram e culparam indiscriminada e colectivamente todos os comunistas e a sua organização, envolvendo sem provas, gente digna. Por mil vezes que repetissem a farsa e as mentiras, mil vezes usaria, novamente, as imagens, pelo que elas continham de desmistificador em toda a calúnia montada.

  24. “Quanto à divertida tese da “PIDE social-fascista” – Não espere o PS e os seus provocadores-de-mão, ao encoberto da turba e da instrumentalização parasitária da mesma, contar para sempre com a impunidade quanto à autoria moral e prática de provocações rasteiras como a do 1.º de Maio.”

    Cuidado com o futuro GPU!

    Vai sonhando, ó Olívia. O vosso tempo já passou. Não passou sem deixar milhões de assassinatos mas felizmente passou. E nem mesmo como sociais-democratas fazeis falta ao capital, já há candidatos mais modernaços para fazer esse papel.

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