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Justiça para Otelo, pá!

Diz Otelo, em entrevista hoje publicada na P2, que “foi o 25 de Novembro que restituiu ao país a pureza dos ideais do 25 de Abril. Não há dúvidas de que esta personagem está a ser maltratada pela burguesia lusitana, que ele ajudou, conscientemente, a recuperar a sua posição.

Já sabíamos que este tipo tinha (a)traído os pára-quedistas no 25 de Novembro de uma forma cínica. Já sabíamos que sempre agiu como oportunista e sempre teve tiques de caudilho. Já sabíamos que sempre, ao longo da sua miserável existência, buscou protagonismo (a Julie Sargeant não me deixa mentir). Só lhe faltava mesmo assumir-se perante o país. Tardou, mas foi.

Perante isto só me resta mesmo apelar ao bom-senso da direita portuguesa: deixem de insultar este fulano, deixem de insultar os revolucionários deste país usando o nome desta personagem. Afinal, sempre foi um dos vossos e sempre agiu como um de vocês: mentiroso, oportunista e criminoso. Faça-se justiça pá.

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Jaiminho, pá.

Amadora, 31 de Julho de 1975. No quartel do regimento de Comandos, tropa de elite do exército Português, um grupo de cerca de duas dezenas de militares de baixa-patente decide, com conhecimento da maioria dos homens do aquartelamento, fazer uma “limpeza” no regimento, infestado de soldados altamente reaccionários e constituindo uma séria ameaça ao caminho que o movimento popular e operário, apoiado por boa parte dos militares, decidira trilhar. Assim, são detidos na Unidade o major Lobato de Faria, Ribeiro da Fonseca, o capitão Falcão e Miquelina Simões, tidos como o núcleo duro da reaccção nos Comandos da Amadora. Porém, faltava a estes o nome mais alto: o Coronel Jaime Neves, um semi-analfabeto e proto-Fascista trauliteiro que era a figura de cartaz do regimento e um dos homens de mão dos “Nove” e de toda a direita, o elo que segurava os temíveis Comandos no lado anti-operário, à custa de proibições aos homens para saírem das instalações da unidade na Amadora, em pleno epicentro do terramoto revolucionário que varria o país (ao contrário do que acontecia com os homens dos Fuzileiros na Margem Sul, da Polícia Militar na Ajuda ou do RALIS em Sacavém, que à custa do contacto directo com os trabalhadores na rua se tornaram nos bastiões militares do movimento popular).

Havana, 31 de Julho de 1975. Otelo Saraiva de Carvalho, patética figurinha da família castrense lusa, pseudo-super-ultra-mega-hiper-revolucionário-pá, futuro-ex-futuro Che Guevara da Europa pá e grande-chefe do COPCON pá, empacota a sua trouxa para voltar a Lisboa, depois de umas belas passeatas na Isla Grande e umas charutadas com o Fidel Castro. Pá. Regressará a Portugal a tempo de salvar a pele ao seu amigo Jaime Neves e de fortalecer a posição militar da burguesia no campo da acesa luta de classes que a “pátria” vivia nesses dias.

Poderia começar assim o argumento de um filme tragi-cómico sobre um dos episódios mais anedóticos (mas mais importantes) de todo o chamado PREC. Militares mais ou menos conscientes da situação que se vivia no país e no seu quartel decidem limpar os Comandos da Amadora e abri-lo ao movimento revolucionário. O saneamento de Jaime Neves, amigalhaço de Otelo, seria então uma jogada perfeitamente legítima e totalmente justificada, apesar de alegadamente ser um golpe encoberto do PCP. A provável deslocação do regimento para o lado operário seria um grande passo para enfrentar a burguesia e a  pequena-burguesia, já fartas das brincadeiras do povo trabalhador que insistia em tomar nas mãos o seu destino.

Contudo, e apesar de as coisas terem estado bem encaminhadas, houve alguém que assim não quis. Eis Otelo em todo o seu esplendor de bobo da corte da reacção no exército português. Depois de ter lançado a bomba do “Jaiminho” e da perda de “confiança” dos “seus homens” à porta do quartel, volta a correr à Amadora no dia 4 Agosto, para presidir ao plenário da unidade , depois de ter sido avisado de que os militares já saneados não poderiam estar presentes na assembleia. Não se sabe muito bem o que se passou entretanto, mas a verdade é que, à semelhança de tantas outras assembleias militares da altura, os soldados – maioritariamente oficiais – afastados conseguiram estranhamente ganhar direito de presença (o mesmo se passou na decisiva assembleia de Tancos) e de voto e uso de palavra. No decorrer do plenário do regimento de Comandos, Otelo aprovou e apoiou a recondução do amigo Jaiminho na chefia da unidade.

Este momento marca em definitivo uma viragem no “processo”, com a reacção a fortalecer a sua posição no campo militar com uma das tropas de elite melhor treinadas em todo o Mundo e acabadinha de sair das matas de África, onde se especializou em espalhar cadáveres (inteiros ou aos pedaços) para caçar animais selvagens.

Não compreendo então, honestamente, a indignação dos trauliteiros da extrema-direita com o anúncio da promoção de Otelo ao posto de Coronel, especialmente depois da recente festarola feita à volta da promoção de Jaime Neves a General. Afinal, Jaime Neves deve totalmente a Otelo a sua continuidade (e quiçá a vida) na Amadora e até mesmo a sua promoção a Coronel um ano antes. E a burguesia portuguesa deve a estes dois ratos a sua sobrevivência.

Jaiminho e Otelo são duas das personagens mais sinistras e mais branqueadas e cujos nomes estão ligados ao período imediatamente seguinte ao 25 de Abril de 1974. Celebrados à direita e à “esquerda” respectivamente, Jaiminho e Otelo têm gozado do silenciamento que esse período da História colectiva portuguesa tem sofrido. Quer um quer outro são igualmente responsáveis pelo esmagamento do genuíno movimento revolucionário popular de 74/75.

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